Não vão pensando que acabou a tortura ou alegria, você pode escolher o que achar melhor em GHOSTS´N GOBLINS. Eu ainda voltei várias vezes àquele bar e perturbava o irmão do Alisson, sempre perguntava o que fazer e ele sempre jogava uma das minhas vidas, como pagamento pela amolação. Mas antes que eu percebesse já era janeiro e já estávamos na metade do mês, sim, jogando fliperama todos os dias, você nem via o dia passar, claro que tinha uma jogadinha ocasional de ATARI lá no Gaúcho, mas era uma emoção a cada dia e ficha. Mas, um certo dia, meu pai virou e disse que iríamos visitar sua irmã, minha Tia Ivone, que também tem casa na Praia Grande, mas ela estava melhor localizada, no bairro de Vila Ocian, como se chamava na época.
Sim ainda não era Cidade Ocian, pelo que me lembro
E aí que lembrei de meu pai ter falado que ia no orelhão, provavelmente ele combinou um dia específico com ela e pelo que ele disse passaríamos o dia na casa dela. Pra mim, essas visitas costumavam ser bem chatas, pois quando a gente é criança, qualquer mudança na rotina é cansativa, mas lembrei do meu primo Décio, porém ele é alguns anos mais velhos que eu. Claro, na minha cabeça juvenil eu seria um estorvo igual me sentia lá na minha rua em São Paulo, mas quem disse que eu tinha opção, bora pra Ocian! Chegando lá e bem cedo, já cumprimentei a todos, minha Tia, Tio, primas, meu primo e minha vó Maria, mãe de meu pai. Casa diferente a gente olha tudo, até o cheiro era peculiar, instigava a gente a ficar lá. Não demorou muito e todos fomos para a praia, as duas famílias para aquela diversão com muita areia, mar e calor. Mas, depois das guerrinhas de areia, de pegar jacaré nas ondas e muito sundown, voltamos para o almoço e na volta para casa, olhando da avenida que atravessaríamos para voltar para a casa de minha tia, já vi um FLIPERAMA e pronto: minha alegria estava feita. Comi como um relâmpago e já pedi para minha mãe o tradicional dinheiro para tomar um sorvete e, na orla da praia o que tem de sorveteria não tava escrito no gibi. Primeiro, minha mãe pediu para uma de minhas primas me acompanhar, mas falei que não precisava, que era perto e eu já voltava. Lembre-se que eu comentei como o tempo passa rápido quando jogamos, né…
Difícil de ver mais tem um fliperama lá no fundo
Tratei de correr para o fliperama e esse era bem maior que os que conhecia até o momento, com máquinas que nunca tinha visto e aquele cheiro de maresia misturado com o cheiro das fontes das máquinas, que ferviam no verão de 38 graus. E nem pensei duas vezes, tratei de comprar toda a grana em fichas, pra depois fazer um reconhecimento nas máquinas e vi vários jogos novos pra mim. RYGAR foi um deles, um carinha com um tipo de bola com corrente que saía correndo matando uma penca de demônios, depois vi GLADIATOR, um jogo com um guerreiro de armadura azul, que saía desviando de flechas e lutando contra inimigos, os sprites eram gigantes pertos dos jogos que eu tinha jogado até ali. Claro que saí procurando mais jogos e vi duas máquinas, uma do lado da outra, que também me chamaram a atenção, COMMANDO e GUN.SMOKE, ambas com um personagem que saía atirando em tudo, porém, um jogo se passava na segunda guerra mundial e o outro no velho oeste.
Esses aqui ainda continuam sendo clássicos
E não deixei de ver clássicos já conhecidos como NEW RALLY X, TRAVERSE USA e ELEVATOR ACTION e nesse tinha um cara bem mais velho que eu, provavelmente com 30 anos, debulhando o jogo e antes de jogar qualquer coisa eu fiquei ali, assistindo em silêncio com mais outros moleques que – acredito eu – também estavam admirados com as habilidades daquele player. Ele chegou próximo do final e a quantidade de elevadores e inimigos era absurda, por dentro torcíamos para que ele fosse mais longe, para curtir junto com ele o suposto final que na época nem era algo comum dos jogos.
Jogo que exigia habilidade e muito mais
Bem, tratei de jogar RYGAR e senti que ia me lascar, pois perdi a ficha numa velocidade que me fez pensar: “Putz, nem joguei os outros jogos.” Então tratei de entrar na fila do GLADIATOR e demorou uns 10 minutos para chegar na frente da máquina, para perder novamente, mas dessa vez cheguei no primeiro inimigo e era difícil ter que controlar o escudo com o controle e dar os golpes nos botões certos, um batia com a espada em cima, outro no meio e o último embaixo e três botões na época era algo infernal. Passei para GUN.SMOKE e nem o BOSS eu vi, morri tomando tiro de algum maluco das casinhas e mais uma vez os três botões foram cruciais para meu fracasso. COMMANDO também foi bem decepcionante, mas ele tinha apenas um botão, achei que seria mais fácil, mas a dificuldade dele, meu deus, até hoje ele é um pé no saco de quem acha que vai ser mole dominá-lo. Acabei colocando o resto das fichas nele, se não me engano foram 5, e fiquei puto, pois pra mim a coisa durou muito pouco.
Nessas pontes era caixão
Jurei nunca mais gastar as fichas assim, sem antes dar uma olhada em alguém jogando e aprender um pouco antes de gastá-las e pra minha surpresa o céu já estava bem mais escuro do que me lembrava, acredito que eram 2 ou 3 da tarde e eu já estava quase batendo 7 horas da noite. Lembre-se, tem o horário de verão. então só as 8 que escurecia de verdade. Corri pra casa da minha tia e já sabia o que ia acontecer. Minha mãe falou poucas e boas pra mim, meus primos saíram para me procurar e não me viram dentro do fliperama, sorte a minha, e falei que chupei o sorvete e saí andando pela praia, lá já tinha calçadão, então a desculpa não colou e tive que falar que estava no fliperama. E olha que era pra eu levar umas bifas, mas minha mãe não quis me bater na casa da minha Tia e minha avó fez aquilo que toda avó faz, proteger os netos. Jantei e quando ousei falar de sair de novo, minha mãe e minha tia tinham um plano e já falaram em voz alta: ”Décio você fica com o Celso, por favor?”
A primeira vista o olhar dele intimidava (Foto tirada em Monte Verde hein)
Pronto, agora eu estava lascado: não ia jogar meu fliperama e ainda ia ser um estorvo pro meu primo e eu sabia o que os mais velhos costumavam fazer com quem enchia o saco deles. Mas agora só no próximo diário para vocês descobrirem o que rolou. Será que meu primo me fez de joão bobo ou acabamos nos divertindo à beça?