Difícil imaginar hoje esses 10 anos que passarão sem o evento. Conheci ele totalmente por acaso em 2005, mas fui apenas encontrar um amigo na saída e estive presente mesmo em 2007 na UniSantana, onde minha irmã – a parceira de todos os eventos – sempre foi comigo e aí começou a paixão, que na verdade já existia desde sempre.


Na TV, eu já assistia Patrulha Estrelar, Robotech, Don Dracula, Garoto Biônico e Piratas do Espaço. Claro que existiam outras animações japonesas, mas essas são as que me lembro melhor. No final de 1990, conheci uma galera bem legal que me levou à Biblioteca Henfil, que ainda era na Vila Mariana, hoje localizada no Centro Cultural São Paulo. E lá conheci outros tantos animês, como Dragon Ball Z, Gundam, Hokuto no Ken, Chōjin Densetsu Urotsukidōji e muitos OVAs e Movies como Ninja Scroll e Vampire Hunter D. E saber que existia um evento onde os fãs dessa cultura se reuniam era algo incrível, não só falar sobre animês, mas encontrar o pessoal vestido como seus personagens favoritos (Cosplay), isso foi uma das coisas que mais me chamaram a atenção na ocasião.


Mas havia algo mais, eram as salas temáticas com uma variedade enorme de temas e muitas com os famosos fansubbers, fãs que traduziam mangás, animês e o que mais conseguissem que não era exibido em português aqui no Brasil. Tanto que nesse evento eu procurei duas salas, primeiro fui atrás dos caras do Si~LÉNSCE!, que traduziam dezenas de mangás, lembro de ler e baixar Hokuto no Ken completo, depois MPD Psycho e por fim City Hunter, que nunca foi concluído. Um trabalho praticamente gratuito, apenas pedindo ajuda de custo para servidores, assim como todo bom fansubber faz até hoje. Também fui na sala do HAITOU que foi, pelo menos pra mim, o melhor site para se baixar animês na época. Lembro que nessa época tinha feito uma doação de 10 reais para o site SHAKAW e baixado Dragon Ball, Dragon Ball Z e todos os filmes lançados pelo fansubber SEIZOU. Além deles, criei o hábito de baixar animês que não conhecia para assistir e ver se eram bons, um deles foi o Wolf´s Rain, que baixei lá no HAITOU e aí começou minha jornada para ter um ratio decente. Quem baixa por torrent sabe do que falo.
E o legal foi como fui recebido, o pessoal trocava ideia, falava de animês que nunca ouvi falar e melhor: rolava exibição de alguns títulos. Claro que em algumas salas era em uma TV pequena, no HAITOU, se não engano, tinha um projetorzinho, coisa fina mesmo. Lembro de um japonês com cara de poucos amigos na porta (que depois fui conhecer), que era o Bliss, um tremendo UPLOADER que mantinha um servidor dedicado só para compartilhar os animês com a galera. Claro que dessas salas nasceram amizades. Conheci muita gente que até hoje está na minha roda de amigos: Kuroi, Saitou, Negrais, Ives e o César – o único que não chamávamos por apelido (mas claro que depois descobri que ele era o Mencel). Uma pena, pois as salas temáticas sumiram do evento no decorrer desses 10 anos. Acho que em 2011, esse tipo de sala tinha desaparecido, talvez porque o que a maioria fazia era considerado ilegal e muitas empresas e parcerias estavam sendo feitas – o fator negócio se fez maior, talvez. Não teve como não crescer, mas uma pena ver que para isso algo teve que ser morto.


Claro que com a expansão do evento, eu pelo menos sempre vi os palcos crescerem cada vez mais e também artistas que nunca imaginei que veria no Brasil. Hironobu Kageyama que cantava várias aberturas de Dragon Ball Z e Soldier Dreams do CDZ, Akira Kushida que literalmente me fez ser um amante dos tokusatsu devido às trilhas de vários programas como Sharivan, Shaider, Jaspion, Jiban e Jiraya: só as séries que mais passaram por essas bandas. Claro que teve muitas outras, algumas que nem me recordo o nome, mas uma que sempre me surpreendia era o Super Friends Spirits, que trazia uma porção desses cantores e – uns dois, três anos atrás – o cantor de Kamen Rider Agito estava presente e só dava eu e minha irmã cantando a trilha enquanto a molecada ficava sem entender nossa empolgação. A mesma coisa rolava quando Akira Kushida cantava Jiraya Sanjou, Ginga no Tarzan e Kidou Keiji Jiban. E óbvio que também rolavam as músicas tema dos animês e séries mais atuais, mas sempre achei legal ver a reação da molecada quando se tratava de coisa mais antiga. E, claro, músicas temas de Bleach, Naruto, One Piece faziam o pessoal pular alto ou apenas levantarem as malditas plaquinhas para atrapalhar quem estava no fundo e queria ver o show. E, detalhe, esse ano teve Asian Kung Fu Generation, mas não foi só eu que achou que eles deviam ter vindo alguns anos antes.
Bem, continuando, o evento não era apenas feito de animês, mangás, cosplays e shows, ele também dispunha de jogos eletrônicos, mas a princípio tinha poucas opções. Geralmente as salas tinham aqueles que levavam algum console ou a própria SAGA, parceira de anos do evento e me lembro que já estavam ali em 2007 com um stand e apresentando alguns MMORPGs. Mas a coisa tomou proporções bem maiores, em 2010 os games tinham um espaço próprio, tanto que quem levasse um console ganhava a entrada e olha que em 2010 foi exatamente o que fiz, levei meu Mega Drive e estive durante três dias com um televisor providenciado pelo evento, jogando e recebendo amigos e uma galera que curtia games, assim como eu. Pena que isso também não durou e a área gamer diminuiu se comparada com a desse ano. Claro, as novidades e lançamentos estavam todos lá, mas alguma coisa havia se perdido, pelo menos pra mim, ver uma penca de gente dançando JUST DANCE não é bem o que eu chamaria de uma área gamer. Uma pena mesmo.


Não tem como falar do evento sem falar do espaço. Como eu mesmo disse, em 2007 o evento estava na UniSantana, próxima ao metrô Tietê, depois, em 2008, tínhamos o Mart Place como centro do evento e nesse local a coisa era no mínimo impressionante: o evento chegava a ficar rolando por duas semanas, começando na quinta e indo até domingo e reiniciando novamente no final de semana seguinte. E era incrível, acho que aquele local foi o que mais me marcou, seja com as salas, área gamer, shows e tudo mais. Esbarrava em cosplayers e tirava muitas fotos, seja zuando ou sendo zuado, tanto que encontrei as Sailor Moon todas em versão travesti com homens adultos fazendo os cosplays e eles até me perguntaram se eu ia tirar mesmo uma foto com eles com meu filho junto, mas expliquei que era meu sobrinho e pronto, me agarrei com eles para aquela foto. E não tem como não lembrar da sala onde tocava música o dia inteiro, tipo J-POP, e a galera ficava dançando e tudo superapertado, mas eu me rachava de passar ali e ver aquilo. Inesquecível.


E o melhor, tinha muita atividade para fazer, seções onde podia atirar com arco e flecha, ler mangás, assistir animês nas exibições das salas e lembro bem quando caminhava para a sala do HAITOU e vi o povo fazendo montinho um no outro, desisti logo, pois já me sentia velho demais para tal. Não tem como não lembrar da sala da Nintendo Party, com o pessoal que curte os console da BIG N no melhor estilo, lembro de haver umas duas salas, uma pro pessoal que jogava Nintendo DS em rede e outra para os consoles. Era bem legal e fiz dois amigos ali: o Mario (não, não é o personagem do jogo Super Mario) e o Mateus, mais conhecido como Lobim, que é um exímio jogador, mas que tá meio ocupado agora com sua graduação. Poxa, esse espaço do Mart Place pra mim era o melhor e poderia escrever mais 5 páginas sobre ele, mas vamos dar continuidade pois depois o evento foi para a Faculdade Cantareira, que era bacana, mas ali já deu pra sentir mudanças drásticas nas salas e tudo mais. Depois, no Campo de Marte, tinha um ar como no Mart Place, mesmo sumindo com boa parte do que se tinha no evento, ainda sobraram algumas salas, o ambiente ao ar livre era bacana, mas o foco já estava em outros detalhes. Claro que ver Tetsuo Kurata a meio metro de distância e ainda conseguir um autógrafo e ter uma foto tirada ao lado do KAMEN RIDER BLACK foi sensacional. Pelo menos eu sentia que algo sumia, mas novidades sempre surgiram, com mais palcos e atrações diferentes. Claro que sentimos falta de algo com que estamos acostumados, mas não posso dizer que o evento decaiu, de maneira alguma, talvez um pouco daquela essência com que eu havia me acostumado tenha ficado muito marcada em minha mente.


E algo que nunca ficou de fora foi o MUPPY, esse que no primeiro evento que fui custava 50 centavos, hoje já estava 3 conto, mas normal, não vivemos numa economia estável, mas como sempre no final do evento as promoções rolam e consegui pegar 10 muppys por 5 reais, o que dá os 50 centavos de 10 anos atrás. E sempre tomando vários para depois no metrô ou no busão sentir fermentar na barriga. E não posso me esquecer que sempre que o evento foi realizado no Mart Place e no Campo de Marte, a organização disponibilizava um fretado para quem descia no metrô ir direto pro evento, algo que pra mim já era o esquenta, pois trombar com UCHIHA SASUKE e UZUMAKI NARUTO no busão e ir conversando com eles não tinha preço. No metrô, já dava pra ver quem estava indo pro evento e pra mim era algo extremamente divertido, ainda mais que sempre ia com minha irmã, parceira de AF e ela sempre levou seu filho, meu sobrinho Erick, que gosta muito do evento. Algo que nesse ano deixou muito a desejar foram os banheiros, que pela primeira vez eu peguei fila apenas para tirar água do joelho, sendo que nos outros anos – mesmo com muita gente – não foi assim. E tenho uma recordação interessante de 2007, lembro de entrar no banheiro e ver três KAKASHI fazendo Bully com um Narutinho, um lia o famoso Icha Icha enquanto os outros dois ficavam segurando ele e zuando muito, no mictório dei de cara com MONKEY D. LUFFY e GAARA urinando tranquilamente. Claro, não tenho fotos dessa cena, mas isso pra mim sempre foi algo louco, que me fazia pensar no quão legal era estar ali.


Acho que a praça de alimentação esse ano estava menor e com menos variedades do que nas anteriores, mas mudança de local sempre gera problemas e talvez por isso muita gente tenha estranhado e visto de uma forma mais negativa do que positiva esse último evento. Pra mim, o evento melhorou em muitos aspectos e piorou em outros, mas acredito que tudo na vida seja assim, não existe mudanças sem essas diferenciações, algo se perde para que algo novo entre, mas nada impede que quem está organizando o evento se lembre dessa essência, desse encontro não apenas de pessoas que têm em comum um gosto comum por cultura japonesa, mas de todos que fizeram amizades, vivenciaram experiências e guardam memórias, assim como eu. Hoje, com meus 40 anos e começando no evento com 30, não consigo imaginar o que teria sido desses 10 anos sem o evento. De mero participante até chegar ao patamar de estar fazendo cobertura em vídeo e agora com material escrito, algo que se me perguntassem 10 anos atrás, nunca iria dizer que aconteceria. Acho que o Anime Friends já se tornou algo maior que o próprio evento em si, talvez muitos dos participantes que também viveram algo assim como eu também sintam que o evento é mais para eles. Tudo que precisamos é manter que esse espírito e que tudo aquilo que vivenciamos possa ser repetido nos próximos 10 anos, por novos participantes e, claro, quem sabe por meu filho, que com seus 5 anos ainda não esteve no evento, mas já estou providenciando para que no ano que vem ele possa viver o primeiro de muitos.

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