Na década de 90, muitas empresas ainda desenvolviam jogos de estilo Beat’ em up, mas nem todas conseguiam resultados satisfatórios. Poucas foram as empresas que tiveram êxito como a Technos nos anos 80 e, uma destas empresas estava no auge deste gênero, a CAPCOM. Em 1993 a CAPCOM firmou uma parceria com a Marvel Comics, que na época exibia o desenho X-Men: The animated series que era um sucesso mundo afora, inclusive no Brasil. Claro que isto era apenas um dos formatos de mídia da Marvel, já que seu sucesso advinha de suas hqs e seus vários super-heróis e vilões e, o primeiro personagem escolhido para ganhar um game foi – o Justiceiro, a.ka The Punisher.
“I am, the Punisher…if you’ re guilty, you’ re dead.” (Eu sou o Justiceiro, se você é culpado, está morto.)
Baseado na história do Justiceiro com mudanças e acréscimos de personagens porém a principal se mantém : Frank Castle, um ex-marine, veterano de guerra, se torna um vigilante contra o crime após a máfia matar sua esposa e seus dois filhos por acidentalmente testemunharem um assassinato causado por eles. Ele consegue matar todos os assassinos de sua família porém continua a punir qualquer um que seja um criminoso e, ao contrário dos super-heróis que apenas imobilizam e prendem os bandidos, ele os mata, seja por tortura, coerção, ou simplesmente pura violência.
Para o jogo fora acrescentado na história o personagem Nick Fury, que é o ex-diretor da S.H.I.E.L.D como o segundo player, e o antagonista o Rei do Crime (Kingpin), o chefe do crime de Nova York, que também é inimigo de outros personagens como o Demolidor e o Homem-Aranha (a primeira aparição do Justiceiro foi na HQ dele, #129 de 1974), além dos Carniceiros (Revers) inimigos dos X-Men e que figurarão nas histórias de Frank Castle durante a saga Atos de Vingança.
Para o jogo, a CAPCOM utilizou sua placa de Arcade CPS Dash também chamada CPS 1.5 que exibia gráficos com uma qualidade superior a de outros beat’ ups, com personagens maiores, bem desenhados e animados, com boa movimentação, assim como os inimigos e chefes. Já os cenários são simples, nada muito chamativo. Já o som das músicas utiliza Q Sound e possui uma trilha sonora de nível altíssimo, e os efeitos sonoros são muito bons. Toda esta qualidade foi possível pois Akira Yasuda foi um dos designers e Yoko Shimamura a compositora das trilhas além do jogo ter sido dirigido por Noritaka Funamizu, todos trabalharam em Street Fighter 2.
Sobre a jogabilidade o jogo possui uma das melhores, com controles precisos, a mecânica segue a linha de Final Fight (golpe especial pressionando golpe e pulo, agarrões com opções para pancadas, arremessos no chão e no ar como o Pile Driver), adições vindas de Captain Commando (socos sequenciados sem quebra e armas de fogo), não tem dash ou run mas um rolamento com dois toques no direcional e pode ser feito para cima e para baixo, é possível além de um arremesso especial agarrando um inimigo e pressionando os botões de golpes e pulo com gasto de energia.
Existem armas brancas como tacos, facas, espadas, machados porém seu uso é limitado a quatro estocadas e perde-se a arma, ambos os personagens possuem outro golpes especial pressionando baixo-cima e o botão de golpe (Justiceiro dá um chute-cortante e Nick Fury semelhante ao facão de Guile) e, durante algumas fases eles podem usar armas de fogo contra alguns inimigos que também utilizarão as mesmas e granadas que podem ser utilizadas contra os chefes (bem úteis). A física de impacto dos golpes (hitbox) é excelente, a sequência não é quebrada (somente pelos chefes), encaixa perfeitamente conforme você bate nos inimigos para montar seus combos. O jogo possui uma dificuldade média, não é um papa-fichas dividido em seis fases.
O player 1 controla o Justiceiro e o player 2 Nick Fury, e sim, ele era branco originalmente e quase centenário como Capitão América. A versão apresentada nos filmes atuais é baseada no universo Ultimate.
Arcade Flyers
Arcade Pôster
O porte que está mais pra conversão para Sega Genesis
Em 1994 a CAPCOM resolveu portar o jogo apenas para Sega Genesis e, em 1995 para o Mega Drive na Europa. O Japão e Asia não tiveram versões, talvez pela falta de interesse. Seria uma ótima notícia se a Capcom produzisse o jogo ou permitisse que a Sega o fizesse como os excelentes portes de Strider, Ghouls Ghosts e Forgotten Worlds, mas não foi o que aconteceu, ela apenas ficou de Publisher e terceirizou o trabalho para a Sculptured Software que apesar de ter um bom histórico de portes e conversões para o Mega Drive, fez um trabalho duvidoso para lamentável neste… Nesta versão.
Já de cara vejo um erro na introdução do jogo, porte… Aonde isto pode ser considerado um porte? No máximo uma conversão e porcamente feita, pois o Mega Drive têm a capacidade de fazer um porte decente deste jogo, com uma jogabilidade ótima. Esta tinha toda a condição de ser portada semelhante como o original mas aqui, infelizmente foi muito, muito prejudicada. Se o caso fosse hardware mas novo o 32X estava á mão.
Os gráficos são no máximo aceitáveis mas longe de se equiparar aos coloridos e bem-definidos do original e nem estou equiparando a resolução. Os efeitos sonoros não são bons, apenas dos tiros e as músicas são as únicas que se salvam com uma qualidade boa.
Agora a parte péssima : a jogabilidade. Aquela mecânica excelente do original só e lembrada aqui pela velocidade que é a mesma, sem slowdowns. Já a física dos golpes, ou hitbox não é ruim, e até razoável, todos os golpes estão ali até os especiais, o problema são os arremessos….são ocasionais, você não os controla como deveria. Sim o jogo possui todos do Arcade, com uma alteração no arremesso especial que gasta energia (ao invés de rodopiar o inimigo, você salta e bate ele no chão) mas, e para utilizar estas habilidades? Você vai lá pra agarrar e…vai passar por dentro dos inimigos e não vai agarrá-lo! Só aleatoriamente.
E as armas? As de fogo são quase inúteis pois além de ser difícil acertar os inimigos, eles parecem que nem sentem! A faca faz mais estrago que a metralhadora! Os inimigos alguns não estão nesta versão como os lutadores marciais, os punks, variação das kunoichis, todos aparecem somente por nomes e os guardroids parecem armaduras lisas e, o jogo possui censura.
Agora vamos as partes boas: todos os golpes assim como os comandos especiais estão ae, inclusive as granadas, pilão aéreo, armas, chefes, cenários e fases. O jogo permite dois jogadores simultâneos e não é lento, só estes dois elementos ajudam – e muito o jogo não ser uma desastre total. Cada jogador possui quatro créditos e só dá para ver o final a partir da dificuldade normal. O último chefe, Rei do crime difere um pouco do Arcade, aqui primeiro você enfrenta alguns inimigos a tiros e porradas, depois ele, porém após um tempo ele desaparece e uma nova horda de inimigos aparece a qual após derrotada ele ressurge. As partes destrutíveis também estão presentes mas bem poucas (o carro da terceira fase por ex. não quebra como no Arcade).
Curiosidades:
- Foi cogitado um porte para Playstation pela Crystal Dynamics numa nota da revista GamePro em 1996, mas depois nada mais fora dito. O jogo não faz parte de nenhuma coletânea antiga e atual da CAPCOM.
- A franquia já teve três filmes com três protagonistas diferentes (Dolph Lundgren [1989], Thomas Jane [2004] e Ray Stevenson [2008]). Em 2017 ganhou uma série pelo canal Netflix com Jon Bernthal como protagonista.
- Assim como Nick Fury, o personagem teve várias versões e formas que vão desde a mudança de raça, até zumbi e um ser ressuscitado.
- Parte dos artworks do Arcade podem ser encontrados no livro Marvel vs. Capcom Official Complete Works da Udon de 2012.
- O jogo conta com vilões de outras séries da MARVEL como os Carniceiros, mas vilões do universo do Justiceiro foram utilizados. Um deles, Jigsaw (Retalho) está no jogo mas um tanto escondido. Ele aparece numa fase do elevador na sexta fase e é como um mid-boss.