Lembro de uma bela tarde ensolarada lá na baixada santista, para ser exato Praia Grande, sorveteria Bariloche, avenida Robert Kennedy. Lá estava eu em minhas andanças pela avenida atrás de uma boa diversão eletrônica quando, ao passar na frente do BIG BOY, um fliperama que não existe mais ali na região, me deparo com algo impressionante. Um novo jogo lá no fundo do fliperama e um jogo de um estilo que já começava a me agradar, depois de conhecer nesse mesmo estabelecimento 1934 e A.S.O.: foi uma grande surpresa para mim conhecer SLAP FIGHT.


No modo de demonstração já tinha cenas do jogo, além de uma explicação sobre as possíveis armas que você podia adquirir e as WINGS. As armas eram SHOT, BOMB, LASER e HOMING MISSILE, e o jogo também dava opção de SPEED e SHIELD, que ficavam em lados opostos da barra, e também tinha SIDE e WING, que ficavam nessa ordem:


SPEED – SHOT– SIDE – WING – BOMB – LASER – HOMING MISSILE – SHIELD


Putz! É verdade, não falei que esse jogo se assemelha muito ao sistema de armas da série Gradius, onde era necessário pegar um power-up que acendia uma das opções que ficava numa barra abaixo da tela e assim você apertava o botão para adquirir tal habilidade. Porém, Gradius é da Konami e Slap Fight da TOAPLAN, o primeiro de 1985 e o segundo de 1986, então sabemos mais ou menos de qual fonte o jogo bebeu. E não! O jogo não é da TAITO, mesmo estando na tela título, o jogo foi desenvolvido pela Toaplan e apenas publicado pela Taito.


Também não posso me esquecer dos ajudantes – como falava naquela época –, que são as POWER WINGS que aumentam o poder de fogo da arma, porém deixam sua nave maior, dando mais chance para os inimigos lhe acertarem. Mas o efeito sonoro disso era incrível, bem metálico e tudo naquele silêncio de um fliperama vazio, então chamava bastante atenção e o tamanho que a nave ficava enchia os olhos. Claro que eu – como todo bom moleque impressionável na época – já comprei uma ficha e me coloquei a jogar aquela maravilha, mas o que me impressionou mesmo foi o tema de introdução ao jogo seguido da música, algo que pra época era totalmente novo.


Bem, com aquele primeiro crédito já vi o quanto ia ser complicado, pois não passei o primeiro segmento da tela. Minhas habilidades na época eram extremamente limitadas e eu não tinha manjado muito bem o que fazer com os power-ups e quais armas pegar, mas (como sempre) a salvação desse que vos fala eram alguns tiozões que frequentavam o fliperama e lá estava um deles, todo confiante e, colocando a ficha, eu já me instalei sobre a área do segundo controle para não atrapalhar, e assim começou.


Primeira coisa que ele fazia era pegar dois power-ups e usá-los exclusivamente para SPEED, algo que eu não achava que era importante. Depois ele pegava mais três para o SIDE, uma arma secundária que atira para a esquerda e direita assim que o jogador atira para frente. Depois de desviar de N tiros e passar a parte que morri de forma ridícula, ele acumulou sete power-ups e usou aquilo que era o meu sonho conseguir: o MÍSSIL TELEGUIADO, pois achava que só ele bastaria para vencer. Bem, vendo aquele cara jogar, parecia tudo bem mais fácil, mas no segundo segmento do jogo ele mudou de arma e a trilha também seguiu mudando e – por mais incrível que pareça – a tela continuava a subir, sem troca de estágio ou um checkpoint, como eu futuramente veria em Raiden.


Depois ele pegou a BOMB, que atirada em locais específicos fazia surgir uma abertura na tela, como se víssemos o código ou o computador por trás daquilo. Algo impressionante, mas outro segmento surgia e, claro, a troca inevitável de arma, desta vez para o LASER, e para minha surpresa: um CHEFÃO. Um tipo de tanque que atirava três vezes alguns tiros sempre na mesma posição e outros três juntinhos sempre na direção na nave. Pra mim foi bem complicado passar a primeira vez por ele, mas para o jogador ali, foi mole. Com o LASER, ele fritou o tanque em segundos, desviando para a direita e voltando ao centro para escapar dos tiros e, já deixando dois power-ups prontos, ele trocou para a arma inicial: o SHOT. Logo pensei: “Ele fez merda.”


Mas que nada, fazendo isso um dos segredos do jogo é revelado: uma nave companheira surge e fica alucinadamente indo para direita, esquerda, subindo e descendo de forma aleatória e matando alguns dos inimigos para você. Algo que nunca esqueci e sempre repito a prática quando tenho power-ups suficientes. Mas uma vez, a trilha sonora se altera e uma tela cheia de canos começa a surgir com inimigos viajando por eles e só sendo derrotados quando surgem em aberturas em locais estratégicos, de onde também atiram contra o jogador. Claro que esse jogador experiente que ali jogava já tinha pegado uma WING e deixou o marcador da barra de armas em LASER. Já fiquei curioso com isso, pois quase no final dessa parte ele deu alguns tiros e surgiu uma pontuação de 3000 pontos do lado direito da tela e assim ele já mudou o seu tiro para laser e começou a disparar, fazendo um barulho de como se estivesse pegando em alguma coisa e era uma plantinha que cada rajada de LASER fazia ela crescer até brotar uma flor e cada tiro fazia o marcador de pontos ficar enlouquecido.


Mas um detalhe, aquele companheiro que estava seguindo a nave parou de atirar, talvez pela mudança da arma ele não pudesse usar o mesmo tiro, apenas SHOT, e como a sua nave havia mudado o tiro ela ficou somente ali passeando pela tela. Um corredor onde tanques vêm de cima para baixo começou a surgir e, com a arma LASER, foi fácil eliminar todos eles, mas uma mudança brusca na música deixava claro que um próximo segmento tinha chegado e logo de cara, mas uma plantinha onde mais pontos foram conquistados. Vários tanques, além de inimigos que atiravam uns para esquerda e outros para direita, obrigaram o cara ali jogando a usar o SHIELD e o engraçado: a nave brilhava freneticamente e um som inconfundível vinha disso, porém notei que o escudo era temporário e se recebesse tiros ele acabava mais rápido. Logo uma base estilo militar e aérea surgiu, mas com o LASER os tanques se despedaçavam facilmente.


Lembro que a música trocava quase no final da fase e essa era bem tensa, mas também pudera: outro chefão surgiria e esse um tanque maior, que na época apelidamos de ESCORPIÃO, mas, sinceramente, vendo hoje, não tem nada a ver com o aracnídeo. Aqui duas táticas possíveis eram usadas: a primeira era manter o LASER e destruir os canhões laterais a fim de apenas lidar com os tiros da parte central; ou trocar para HOMING MISSILE e ficar apenas desviando dos tiros centrais e jogando os mísseis no chefão. Logo em seguida, uma tela gradeada surgia, com três caranguejos mecânicos que nunca fizeram nada além de serem mortos. E depois pequenos tanques que corriam nessa grade passaram a surgir de todos os lados e aí tinha um porém: usar o míssil nessa parte era meio ruim, pois é necessário atingir duas vezes esses adversários para destruí-los e o laser era também meio ineficaz. Geralmente, os jogadores mais experientes mudavam pro SHOT, assim a nave auxiliar voltava a atirar, dando uma ajudinha.


Logo em seguida, um grande deserto se apresentava à nossa frente e dezenas de tanques surgiam do topo da fase, mas se você já tivesse decorado a posição de cada um era uma moleza só. Obviamente, mais um segredinho me foi apresentado: mudando a arma para HOMING MISSILE e atirando com ela em dois tanques plataforma que aparecem parados na tela, fazia com que pequenas telas se virassem, para que você as destruísse para pegar uns pontinhos extras. Porém, tudo dependia do jogador: eu sempre mudei para míssil nessa parte, mas alguns mudavam para LASER, pois um novo segmento surgia e a trilha da primeira tela nos recebia, mas a TOAPLAN fez uma bela homenagem para a TAITO colocando um personagem do SPACE INVADERS dentro de uma canaleta e se você fosse esperto e estivesse com o LASER, esse bateria no bichinho dando muitos pontos, mais um segredinho que conheci naquele fliperama.


E esse novo segmento dava pinta de ser a fase final, pois era todo metalizado, com muitos tanques surgindo de várias direções e eles atiravam mais do que na primeira vez que aparecem. Fora uma pequena base que atira para todas as direções e depois voltava atirando novamente, com o LASER essa tarefa era mole. Essa era uma parte que muitos não passavam, então esse jogador que ali estava me dando de mão beijada todos os segredos do jogo usava o SHIELD e não apenas uma, mas duas vezes seguidas, me fazendo perceber o quão importante era ele. Novo segmento de fase surgia e a troca de música novamente ocorria, dessa vez com a trilha inconfundível do segundo chefe, o que já me fazia pensar: “Será o último chefão?” A tela tinha uma aparência de castelo, com o chão feito de tijolos e um novo tipo de tanque apareceu, mais forte para ataques com LASER, mas fraco para o HOMING MISSILE, porém parecia estranho, o jogador ali não mudou o tiro e permaneceu com o LASER, mesmo demorando para detonar esses inimigos.


Claro, o motivo estava óbvio: um tipo de chefe com aparência de caveira apareceu e atirava como louco, mas não para quem estava com o LASER, pois mesmo antes da tela parar para o combate, o inimigo já havia sido derrotado. Fiquei embasbacado e queria gritar – lembro eu –, mas receando fazer isso e o cara ficar puto comigo, me segurei, e quieto continuei a assistir. E uma estrada por onde o chefe fugiu estava ali diante da navinha, e o LASER se mostrou mais uma vez uma excelente escolha, devido à quantidade de plantinhas e pontos que você vai conseguir nessa parte. Logo em seguida, até parece um chefão, mas aparecem dois tanques que com o LASER e o SIDE, você debulha facilmente, além da mudança da música revelando mais um segmento. Mas para o corredor de tanques que vai surgir, um SHIELD vem muito bem a calhar, pois a habilidade necessária nessa parte deve ser grande. Até hoje eu sinto dizer que nunca passei dessa parte com facilidade, às vezes dou sorte, às vezes não: como em todo shmup, as coisas devem ser assim.


Jogadores experientes trocam a arma nesse momento, alguns preferem SHOT, outros como eu, o HOMING MISSILE, e alguns além da troca de arma pegam mais um WING, mas eu particularmente nunca pego mais do que uma. Mas logo você terá que trocar novamente e de preferência para o LASER se quiser de verdade vencer o jogo. Se for esperto e já ficar atirando no chefão final antes da tela estacionar nele, você já causará um dano significativo e, claro, ainda vai chover muito tiro em você, pois ele não morrerá apenas com isso. Se tiver um SHIELD na sacola, é hora de usar, senão, HABILIDADE E HUMILDADE resolve – abraço, Zemo. E o mais impressionante: o jogo lança a navinha em um tipo de floresta com uma estradinha de terra, com a famosa música da primeira tela e você vai vendo alguns castelos e pronto, o jogo recomeça de onde ele começou, fazendo você viver esse loop infinito. Mas lembre-se, a coisa agora vai complicar: se já era tenso nessa primeira passada, agora ficou duas vezes pior, pois todos os inimigos vão lançar já dois tiros de cara e isso naquela que seria a primeira fase. Tenso é pouco.

Geralmente era agora que separávamos os jogadores dos entusiastas, pois quando eu rodava o jogo já largava a ficha, como se mostrasse desdém por aquilo, como se tivesse sido muito fácil. Mas não era, e além disso essa pequena jogatina sem morrer podia render de 20 a 30 minutos, morrendo podia durar uma hora, por isso eu morria. Mas é isso aí: mais um grande jogo revisado e com lembranças e vislumbres que tive sobre a forma pela qual aprendi a jogar esse incrível jogo.


Mas antes de terminar, deixe eu lembrar vocês de mais um segredinho. Certa vez esse carinha que jogava muito colocou uma ficha, mas foi chamado por um amigo na hora que ele deu START. Ele pediu para não mexer e a nave obviamente ficou lá e BUM, foi alvejada e explodiu, mas na sequência a nave completa e com HOMING MISSILE estava à disposição, algo que me fez pegar o controle na mesma hora e esse rapaz quando viu, ficou extasiado e me perguntou como eu fiz aquilo e apenas disse: “Você largou aí, a nave explodiu e voltou assim!” O cara deixou morrer as 3 vidas e colocou outra ficha para testar e o resultado foi o mesmo. Um segredinho desse incrível jogo que vi acontecendo na minha frente e depois daquele dia a coisa facilitou para esse jogador aqui que era noobão na década de 80 em SLAP FIGHT.

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