Recentemente, surgiu um grande número de imagens e memes em cima do famoso STUN ou TONTURA que os jogos de luta geram como punição depois que um jogador aplica uma quantidade de acertos no seu adversário. Li diversos comentários que diziam que em São Paulo não podia pegar tonto, que no Rio de Janeiro dependendo do lugar que você estava valia e, claro, uma discussão sem fim sobre regras do fliperama que – pelo menos na minha época – não era bem assim. Então, primeiro, vou entrar com uma parte técnica, para deixar pro final o melhor da conversa, a minha experiência pessoal de ter vivido nos fliperamas quando a treta toda começou com STREET FIGHTER II: THE WORLD WARRIOR, que foi a base para todos os jogos que vieram depois, já que todas as empresas que queriam um FIGTHING GAME daquele calibre o copiaram.


Bem, o STUN ou “TONTO”, como muitos falam aqui em terras tupiniquins, é uma punição que foi colocada no jogo para castigar aquele jogador que estava vacilando e recebendo muitos golpes seguidos. Claro que se pararmos pra pensar no próprio jogo que criou isso, às vezes parecia totalmente aleatório, mas muitos pegaram o jeito ou passaram a explorar glitches para que isso acontecesse mais facilmente. Claro que, com o passar do tempo, a própria série Street Fighter melhorou o sistema, colocando uma barra para mostrar quanto falta para o jogador ficar tonto. Tanto que nos campeonatos do novíssimo STREET FIGHTER V isso é algo muito explorado pelos jogadores profissionais, lembrando que mesmo um PRO PLAYER toma umas bordoadas tonto, por vacilar ou abrir demais a guarda.


Agora, voltando para os fliperamas sujos e infestados de pivetes de São Paulo, a coisa muda de figura. Acredito que inicialmente o sistema era falho e, como mencionei, muitos glitches eram usados fazendo alguns jogadores perderem a paciência, então, claro, começou a treta do pegar tonto nesses lugares maliciosos. A primeira vez que vi esse jogo, eu nem lembro ao certo o ano, acredito que possa ter sido no final de 1991 ou até mesmo no começo de 1992. Lembro até hoje do fliperama que ficava na Rua Dr. Gentil de Moura e foi colocado inicialmente no fundo do estabelecimento, já que ficou quase duas semanas mofando, sem ninguém mostrar interesse por ela.


Porém, no fliperama que ficava na esquina da Avenida Nossa Senhora das Mercês com a Rua Dom Villares, a coisa era diferente, saindo ali do colégio onde fazia o ginásio na época, via a galera se amontoando em volta desse jogo, mas inicialmente a treta era sempre com E. Hondas, Chun-Lis e Blankas, já que apertar rapidamente os botões ativava os golpes especiais mais simples de todos. E a galera ia à loucura, pois ali já rolavam os “tontos”, mas naquele momento era super divertido e – como falei – o pessoal gargalhava com essas lutas. Até aquele momento eu não tinha dado muita bola ao jogo, o Street Fighter (Fighting Street) que eu havia jogado bastante com meu colega Marcos não tinha deixado nem de longe uma boa impressão na época.


Mas aí começou, a galera descobriu rapidinho depois dessa fase “vacilão” os incríveis movimentos dos personagens do jogo, logo se ouvia MALUF / ATAQUE DAS CORUJAS / MACUMBA FIRE / CUCUZ / MINI TÁXI e muitos outros gritos que eram repetidos incansavelmente pela molecada em todo buteco, fliperama e boca de porco onde essa máquina estava. Sempre gosto de lembrar do ABUTRE que o Zemo me contou que ouvia ao passar ali próximo do metrô Armênia, hilário. E lembro que eu mal me aproximava dessas máquinas, geralmente tinha fila ou estavam cheias de pivetes e literalmente maloqueiros, como chamávamos aqui em Sampa. Isso me fez me tornar um apreciador dos jogos de navinha, mas claro, isso é outra história. Bem, mesmo não jogando com intensidade, amigos e colegas o faziam e entravam nas maiores confusões.


Como falei, vários macetes iam sendo descobertos, como travar o Guile de forma que os inimigos controlados pelo computador não batessem nele e muitas outras doideiras mais que aposto que muitos podem comentar aí depois. Mas a questão do pegar tonto, bem, eu frequentava vários fliperamas e agora já tinha passado um ou dois anos, 1993 pra ser exato. STREET FIGHTER II’: CHAMPION EDITION já estava nos ARCADES com os quatros chefões à disposição para a jogatina e aí a merda tava feita, tinha maluco desligando máquina, saindo no soco ou até esfaqueando adversários como eu já bem contei em LIVES no canal. Então algo que eu notei era o seguinte: no início de toda luta, a pessoa que desafiava já tinha que perguntar se podia entrar, pois dependendo de quem estava jogando, podia dar uma treta nervosa e muitos nem entravam, pois viam que era um office boy 3 vezes maior que você, logo você se contentava em assistir a jogatina do marmanjo.


Claro que depois de conseguir convencer o outro cara a jogar, a pergunta na sequência era: “PODE PEGAR TONTO?”, aí o cara respondia se sim ou se não. E geralmente era respeitada essa regra. Lembro que alguns pediam para ver os botões e a maioria deixava de boas, mas acontecia de na empolgação sair um hadouken ou mesmo bater no cara tonto quando se tinha dito que não podia, muitos deixavam o jogador dar um balão para descontar ou ficavam parados para receber um HADOUKEN. Claro que quando isso não acontecia, tretas normalmente rolavam, na maioria das vezes a máquina era desligada e ambos perdiam a ficha. Acontecia também do cara perder e fazer isso, mas eram atitudes bem infantis que podiam ou não começar uma briga. Às vezes, cada um seguia seu caminho, em outras um bate-boca se iniciava, mas logo o dono do fliperama ou quem vendia fichas vinha resolver, tirando os brigões do fliperama ou já começava a troca de socos que neste caso era pior, pois podia chegar a polícia e acabar com a jogatina de todo mundo.


Eu presenciei todo tipo de situação, carinha que estava no final do jogo e o outro entrava só pra tirar ele, lembrando que nessa ocasião o cara que fez isso tomou uma facada de canivete no suvaco, uma tentativa de homicídio mesmo. E o cara dizendo que só queria dar um HOLLYS no BISON: engraçado, mas totalmente trágico. Claro que vi coisas incríveis também, jogadores de alto nível se digladiando, mas quando o outro ficava tonto o cara até se afastava, algo muito legal. Mas realmente acho que, na época, por ser o pai dos FIGTHING GAMES, ele tinha muitos problemas que eram explorados por jogadores que não saíam do fliperama ou que tinham pegado o jeito e esses criaram todo esse mimimi que ainda repercute até hoje, algo que já foi resolvido, modificado, melhorado, mas marcou e ainda vai marcar muito mais os jogadores e deixando aquele impressão de quem era o cara legal e quem literalmente era um cuzão.

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