Bem, já situei bastante como era minha rua, mas houve mais mudanças. Essa rua era uma ligação entre bairros, então passava ônibus, tinha um fluxo grande, mas um pouco antes de eu relatar os acontecimentos da matéria passada, as coisas mudaram e a rua se tornou sem saída, com uma rotatória no final para os carros fazerem a volta. Um tipo de pracinha. Foi aí que comecei a ser praticamente colocado para fora de casa pela minha mãe para interagir com as crianças da rua… que, como sabemos, agora todos eram adolescentes. E lógico que quando não se tratava de videogame, a coisa era meio complicada.
Em várias oportunidades, todos, até as garotas, paravam tudo só para me zuar. Não que eu guarde rancor até hoje, mas a gente não esquece certas coisas, ainda mais quando te marcam negativamente. Lembro de duas ocasiões, a primeira foi quando o pessoal de algumas casas colocavam uma rede de vôlei na rua para jogar e, claro, todos queriam participar e logo fui eu também para jogar. Porém, parece que o pessoal resolveu cortar todas as bolas em mim, até que um dos garotos acertasse minha cara, me fazendo cair. E uma segunda ocasião foi numa festa junina que rolava na rua, todos levavam algum doce ou salgado, refrigerantes e até rolava fogueira e lembro que no finalzinho, quando a fogueira já estava sem fogo em si, o pessoal começou a pular e, lógico, fui atrás e uma das garotas assim que pulou, parou, me fazendo bater nas costas dela e obviamente cair sentado na brasa.
Ainda bem que o fogo não estava tão alto assim
Exigi uma satisfação dos pais dela que ali estavam e dela mesmo, exigindo desculpas senão nunca mais falaria com ninguém ali. Bem, posso dizer que até hoje nunca mais falei com ninguém, algumas dessas pessoas ainda moram aqui, mas continuo mantendo minha posição. Porém, não é só de lembranças negativas que essa rua é feita. Existia mais uma garota na rua e essa tinha minha idade. A conheci quase que ao mesmo tempo que essa galerinha, mas a diferença era que o papo fluía diferente e o melhor: ela tinha um ATARI e gostava muito também. Ela chegou a vir aqui em casa jogar comigo e adorava jogar COMBAT e BREAKOUT, pois ela se saía melhor do que eu. E só atualmente vim saber que as mulheres têm mais habilidade com esse tipo de jogo: PONG mesmo em sua época de lançamento foi um sucesso entra as mulheres pois no HAPPY HOUR elas davam aquele courinho nos marmanjos.
Claro, eu também ia jogar na casa dela, ela tinha POLE POSITON e ASTEROIDS, nos quais eu é que me saía melhor e lembro que a gente jogava, ria muito com os erros um do outro e uma coisa que sempre me vem à mente quando lembro dela é o achocolatado BROWN COW. Vocês não se lembram? Era um achocolatado líquido que acho que chegou a ser refabricado, mas sumiu de novo do mercado. Mas o que não esqueço é que ela colocava no pão francês e a partir dali comecei a fazer igual, uma memória que considero super legal, pois CHOCO BROW como muitos chamavam na época e ATARI era algo que ficava muito bem juntos.
Só quem viveu na época experimentou essa delícia
Então, pelo menos eu tinha uma amiga, alguém que pelo menos não me zuava ou me fazia de bobo para seu bel prazer e melhor de tudo: jogava aquele console que considerava meu melhor amigo, hipoteticamente. Então, um certo dia, fui até a casa dela chamar para andar de bicicleta e a mãe dela, acho, me disse que ela não estava. Voltei no outro dia e me disseram o mesmo, voltei no dia seguinte com um jogo que ela tinha me emprestado e a resposta continuava a mesma e a pessoa não teve nem o interesse de pegar a fita de volta, mesmo falando que era dela. Mas tem um detalhe que vocês devem ter percebido, eu não falei seu nome, claro que os que me causaram certo desconforto eu não mencionarei os nomes, para evitar qualquer tipo de problema, mas não teria problema em dizer o nome dessa garota, porém, sinceramente eu não me lembro. Eu não sei se eu sentia algo por ela que depois que ela sumiu, eu me obriguei a esquecê-la por estar sofrendo com tudo aquilo que senti.
Até hoje, me esforço para lembrar seu nome, como eu me prontifiquei a não falar mais com ninguém daquela época que morava na rua eu não tenho para quem perguntar. Um preço a se pagar por essa minha decisão, mas não esqueço das risadas que dávamos, nem das jogatinas que ela ganhava nem de seus olhos verdes. Vai saber se ela foi meu primeiro amor, um amor platônico eu sei, pois não era nada além de uma belíssima amizade e que me fez muita falta pelos anos que vieram depois desse.